sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Um pouco de História...Blumenau - do Stadtplatz ao enxaimel

Uma História de 163 anos - comemorada no próximo dia 2 de setembro - Blumenau - cidade fundada pelos imigrantes da mesma pátria que idealizaram e fundaram o C.C. 25 de Julho de Blumenau.


Para saber mais sobre, recomendamos a leitura - clicar sobre:
 Por que 25 de Julho ?
 Técnica Enxaimel
Lentamente e com "jeitinho" a área central de Blumenau vem 
"sendo verticalizada" sobre  os escombros da História da cidade
Mapa do Brasil - Século XVII
Para iniciar, com o objetivo de conhecimento e enfoque da História, apresentaremos de maneira sucinta, o contexto político, econômico e social da Província - Estado de Santa Catarina, na época em que foi fundada a Colônia Blumenau e como esta foi desenhada e planejada, talvez o primeiro plano urbano do Estado.
A povoação de Santa Catarina é bem recente, se comparado a outras regiões litorâneas do país. 
A povoação no litoral catarinense aconteceu em meados do século XIII. De acordo com o Professor Vilmar Vidor, o objetivo desta povoação foi de ordem militar. O Governo Imperial incentivou o deslocamento de alguns grupos de Açorianos para a costa catarinense, fundando, então, em 1645, o povoamento de São Francisco do Sul e um pouco mais tarde Florianópolis e em 1676 o povoado de Laguna. O único povoamento existente no interior da Província era o povoamento de Lages, criado em 1771, ao lado da Estrada que liga São Paulo a Rio Grande do Sul.
São Francisco do Sul fica nas proximidades de Joinville
No Século XIX, a natureza da política de povoamentos mudou de natureza militar para o desenvolvimento econômico.
Em 1829 começou o povoamento pelos imigrantes alemães. Com o primeiro grupo, composto de 635 pessoas, aconteceu a fundação de São Pedro de Alcântara
Igreja católica de São Pedro de Alcântara

Durante as comemorações de 180 anos de imigração alemã no Estado de SC
Em 1836 foi fundada Itajaí, com colonização açoriana, cuja instalação foi financiada pelo governo; nova Itália, e Nova Trento, fundadas por imigrantes italianos. Em Itajaí , estava o porto marítimo, no qual, nos anos seguintes desembarcariam milhares de imigrantes alemães e de onde, enviavam as primeiras notícias para a Alemanha, sobre as primeiras impressões do mundo novo.


Em 1848, conforme artigo 16 da Lei geral n° 514, cada Província teve o direito a 36 léguas quadradas de terras virgens. Era proibido o uso da mão de obra escrava. Os agricultores e imigrantes não seriam proprietários de suas terras, se em cinco anos não as cultivassem. Esta lei permitiu a criação de colônias provinciais e que regeu o sistema fundiário até a Proclamação da Republica, em 1889.

Foto: Arquivo Histórico
Em 15 de maio de 1850, através da assinatura de contrato entre os Príncipes de Joinville e a sociedade de Colonização de Hamburgo, aprovado pelo decreto governamental, foi fundado a Colônia de Dona Francisca, atual Joinville. No mesmo ano, Dr. Blumenau funda a Colônia Blumenau. Hermann Blumenau e 17 imigrantes aportaram às margens do ribeirão da Velha e Garcia, marcando o início da Colônia Blumenau. 
Dr. Blumenau e 17 imigrantes chegam às margens e maca o início da
Colônia Blumenau - 1850
Em 1850, então é instituída a Lei de Terras, regulamentada pelo Decreto 1.318 de 1854, acelerando o processo de povoamento na Província
Em 1859, 9 anos após, a Colônia Blumenau contava com 943 habitantes que ocupavam 169 lotes coloniais e urbanos, quando a colônia foi elevada a Distrito de paz.
Casa provisória - Taipa

Acampamento provisório
Casa provisória
Família de imigrantes alemães do sul do Brasil 
 meados da segunda metade do Século XIX
Até 1860, a Colônia era propriedade do Dr. Blumenau, quando, então o Governo Imperial encampou o empreendimento. Dr. Blumenau permaneceu como diretor da Empresa até 1880, quando a Colônia foi elevada a Município. Nesta época tinha uma área territorial superior a 20 mil km2. 
Foto do Grupo Facebook: Antigamente em Blumenau
“Hermann Blumenau, tendo já a prática do comércio e da pequena indústria, estabeleceu a empresa Blumenau e Hackradt, que recebeu do Presidente da Província, por compra, uma gleba de terras as quais, as quais se somaram outras, adquiridas de terceiros, compondo um todo de 150 mil jeiras.” (VIDOR, 1995)
A leitura da malha urbana do Stadtplatz foi possível a partir de algumas abordagens arquitetônicas e geográficas, ou seja, a reflexão do espaço a partir do estudo morfológico. Este estudo é resultado da ordenação dos elementos urbanos organizados de maneira semelhante dentro da malha caracterizando uma totalidade dentro do contexto urbano. 
“No intervalo compreendido entre a chegada e a ocupação do lote próprio, os migrantes se ocupavam de trabalhos agrícolas, da derrubada de matas; eles eram igualmente obrigados a participar nos serviços gerais de abertura de estradas, construções de pontes e outras obras de interesse coletivo, não somente para não ficarem na ociosidade, segundo disseram, mas, sobretudo, para conhecerem o novo quadro da vida.” (VIDOR, 1995)
Stadtplatz

Stadtplatz foi o primeiro núcleo urbano da Colônia Blumenau e do Vale do Itajaí. Os primeiros imigrantes alemães participaram diretamente da construção e espacialização dos primeiros elementos urbanos. O parcelamento foi iniciado em 1852 através da medição e demarcação dos lotes.

Parcelamento

O rio Itajaí Açu e os ribeirões Garcia, Fresco, Velha e Bom Retiro foram de grande importância na definição do traçado do Stadtplatz em 1852, registrado no primeiro mapa (1864).  O traçado dos primeiros lotes urbanos surgiu a partir da localização e orientação do rio Itajaí Açu e ribeirões. Este cuidado estava relacionado à acessibilidade através destes caminhos naturais, e também, a facilidade do livre acesso à água, para fins de uso doméstico na propriedade e para irrigação da plantação.

A conformação geográfica dos rios e a topografia colaboraram para a definição do desenho do parcelamento de terra. Segundo Deeke, os lotes se dividiam em três tipos dentro da malha, observando a linha de fundos do mesmo.  
- Reta: Formando lotes de profundidade desigual;
- Sinuosa: formando uma paralela ao traçado do curso d´água;
- Escalonada;

O parcelamento e desenho do solo eram formados por lotes estreitos e compridos, paralelos entre si e perpendiculares ao rio, aos caminhos e às curvas de níveis. Predominou lotes com testadas muito estreitas para o caminho (estrada, picada, rio ou ribeirão) e com profundidades extensas, tão extensas que em algumas situações se confrontavam com a profundidade de um lote situado em outro curso d´água. 

Ainda, existe o fator cultural para esta configuração urbana detectada no Stadtplatz da Colônia Blumenau. Segundo YAMAKY citado por Del Rio, Muitas das cidades de culturas alemãs são estruturadas pela rua principal e o rio, portanto em um vale.

Foto do Grupo Facebook: Antigamente em Blumenau
O parcelamento do primeiro núcleo da Colônia Blumenau surgiu a partir da adequação da paisagem natural, formada pelo vale (rios, ribeirões e montanhas) e a necessidade de acessibilidade às propriedades, aproveitando os caminhos naturais. Também houve reflexo das cidades alemãs sobre e estruturação urbana a partir da rua principal e rio.  

Traçado

No Stadtplatz, o traçado surgiu para completar e interagir com os caminhos já existentes naturalmente: rios e ribeirões.
Grande área da Colônia Blumenau e os rios - Demarcação dos atuais Municípios que surgiram e existem na atualidade a partir da Colônia Blumenau




Os primeiros lotes foram entregues aos colonos em 1852. No início da colonização, as famílias residiam na sede da Colônia, deslocando-se diariamente até sua gleba de terra para o trabalho na plantação, como acontece até os dias atuais em Vilas na Alemanha. À medida que os novos imigrantes chegavam à Colônia, iam sendo demarcados os lotes urbanos e rurais ao longo das picadas já abertas, formando as linhas coloniais, onde os colonos passavam a ir à sede somente nos finais de semana. Este traçado ia tomando a forma de “espinhas de peixe”, construindo assim, quarteirões abertos. 
Elementos capazes de responder pela descontinuidade da paisagem urbana - Stadtplatz.

Porto: 

Local onde aportavam e partiam os imigrantes rumo a Itajaí e de lá para outras partes do Brasil e exterior, geralmente Alemanha. O porto estava localizado às margens do Itajaí Açu, na foz do ribeirão Garcia. De frente para o boulevar rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias. Rua onde os lotes coloniais foram logo ocupados, por casas comerciais, residências e igreja. No terreno situado às margens do rio Itajaí foi criado um espaço público através de uma praça linear ao rio. Ponto de encontros, e pequeno comércio local. O Porto, depois do rio Itajaí Açu, foi o primeiro elemento e se firmar como elemento estruturador da cidade. A primeira área a ser ocupada foi em suas proximidades, foz do ribeirão Garcia.
Foto do Grupo Facebook: Antigamente em Blumenau








Boulevar Rua das Palmeiras: 

Atual Alameda Duque de Caxias. Grande avenida desenhada aos moldes das grandes avenidas francesas. Com duas largas pistas de rodagem, sem ainda ter a presença do automóvel, separadas por duas fileiras de palmeiras e um caminho para pedestres. O início do bulevar se dava no porto, como marco “ zero” da cidade. Sua implantação considerou a orientação do porto, paralelamente ao ribeirão Garcia, orientando de certa forma a ideia de rua principal paralela ao rio ou ao ribeirão. Conforme analisou Peluso e outros pesquisadores, as cidades de colonização alemã apresentam crescimento linear e radial de acordo com a estruturação, geralmente, percebida nas cidades da Alemanha. Os eixos são orientados paralelamente aos cursos d´água. 

 Rio Itajaí Açu: 

O primeiro grande elemento natural estruturador do primeiro núcleo da Colônia Blumenau, responsável pela viabilização do Porto. Elemento focal natural importante e direcionador na estruturação posterior do Stadtplatz, como também de outros tantos núcleos urbanos que nasceram ao longo de suas margens do rio no Vale do Itajaí para o norte. Esta facilidade de acesso facilitou a formação da rede de povoados que deu origem a rede de cidades no Vale do Itajaí. 
Fonte de alimento e água para irrigação da plantação do imigrante.
A importância dos rios, dentro dos planos dos primeiros administradores. Era o primeiro levantamento feito e partir destes eram orientados o crescimento da Colônia.
Levantamento feito por Emil Odebrecht na segunda metade do século XIX.

O rio, desde o primeiro momento, foi importante para o desenho da cidade, que no primeiro mapa do Stadtplatz, de 1864, foram detalhados com quase precisão, a localização de todos os cursos d´água.
A paisagem e o espaço urbano de Blumenau são fortemente condicionados pelas encostas dos morros, coberta pela luxuriante mata Atlântica, que seccionam o tecido urbano. Entre rio e montanha, a malha urbana se desenvolveu inicialmente linearmente ao longo de fundos de vale, em área parcialmente inundável.
Foto : Arquivo Histórico



Ribeirão Garcia:

Tal como o rio Itajaí Açu tem sua importância como elemento focal natural, fonte de irrigação da lavoura, elemento estruturador das ruas, no traçado do lotes. As ruas foram quase todas, orientadas, adequando-se acessibilidades ao ribeirão. 
Observa-se a intenção de promover a ligação entre o porto e a via principal (rua das Palmeiras), sendo que esta é orientada paralelamente ao ribeirão Garcia, forçando o desenvolvimento da malha no sentido do vale do ribeirão Garcia, ocupando as partes planas e baixas do sítio físico. Estas com um traçado que permitisse o acesso à água por todas as propriedades. Resultado: lotes estreitos e profundos.

Praça da Fonte: 

Os espaços de convívio, encontro e de lazer estiveram presentes na formação e planos da nova cidade. Foi criada uma  praça, hoje inexistente em função do tráfego de veículos (tragada pelo sistema viário atual) entre o bulevar e o porto. Ponto de encontro, interação e lazer. Inserida no espaço do Stadtplatz, respeitando a escala local. Munida de equipamentos urbanos, como: bancos, canteiros e fonte d´água. 

Foto do Grupo Facebook: Antigamente em Blumenau
O conjunto dos elementos formadores da malha urbana do Stadtplatz, primeiro núcleo urbano de Blumenau tem características muito bem delineadas no que tange a ao espaço público e privado na paisagem predominante. Até o momento atual. A região vem sofrendo pressões do mercado imobiliário para a liberação da verticalização e com isto sua configuração, sky line são descaracterizada. Mas isto é outra coisa. Perguntamo-nos: Como será sua História no futuro? 
Descaso com um espaço tão importante para a História do Vale do Itajaí - Para Blumenau
Prosseguindo, neste primeiro momento de urbanização, antes do uso e do surgimento da Rua XV de Novembro, tradicional rua de comercio de Blumenau, percebe-se que o não havia uma preocupação em demarcar um local na cidade estritamente comercial. 
Segundo José Ferreira da Silva, os terrenos eram distribuídos de maneira aleatória aos colonos que escolhiam aqueles que mais lhe agradavam. Criando com isto, pontos de áreas verdes não ocupados, entrecortando as propriedades ainda com características rurais neste primeiro momento da história da formação da malha urbana de Blumenau. A rua XV de Novembro era então, somente uma picada na mata margeando o rio Itajaí Açu, rumo à foz do ribeirão da Velha.
Os terrenos tinham a forma retangular com a testada estreita e de grande profundidade, por conta de importância da acessibilidade ao curso d´água. As edificações permanentes eram locadas, neste primeiro momento, com um determinado afastamento da rua para o feitio de um pequeno jardim de flores, dividido em duas partes através de um caminho que levava ao portão, o qual dava acesso, a partir da varanda da casa à rua. Este caminho era adornado com flores silvestres e roseiras, cujas mudas vinham da Europa.  Na parte dos fundos da propriedade, em áreas planas, eram edificados os ranchos, estrebarias, depósitos e oficinas. Onde dormiam e eram alimentados os animais, ordenhava as vacas, fazia produtos do leite, como queijo, queijinho e nata. Nestas edificações, também era onde cozinhavam os musses (Doce de frutas), faziam as linguiças e derivados em geral da carne de porco e gado; armazenavam as produções agrícolas, como grãos (trigo, feijão, arroz), iame, cará, batatinha; e equipamentos diversos, desde arreios, ferramentas da lida na lavoura, carros de boi, carros de mola, entre outras coisas.
Foto do interior da Colônia Blumenau que ilustra a propriedade que segui, na época a mesma tipologia
Alto Vale do Itajaí


Geralmente a área de plantio de maior porte, ficava mais afastada da casa. Próxima a casa ficava uma horta, com ervas e verduras e o local onde ficavam as galinhas, para a produção de ovos. Entre a lavoura e a horta e galinheiro tinha o pomar. Pomar, fonte de frutas para alimento e feitio de doces, tortas e sobremesas. Culinária familiar, onde as receitas eram oriundas da Alemanha, repassada de mãe para filha. Estas benfeitorias iam sendo feitas ao longo do tempo, quando as pessoas já instaladas na propriedade 

A propriedade, neste primeiro momento, de 1850 até 1880, era abastecida pela água dos cursos de água locais, ou por poços construídos.
As propriedades ocupavam as partes mais planas do vale, e entrecortadas por caminhos, ruas, estradas e picadas, quando não houvesse acesso ao rio e ribeirões. 
Foto de ocupações de imigrantes alemães no Alto Vale do Itajaí
Semelhante em toda a Colônia Blumenau
Em um primeiro momento, a Colônia, que apresentava uma estrutura minifundiária, dedicou-se a policultura de subsistência. Logo, entretanto, o trabalho do imigrante permitiu a formação de um excedente, que propiciou o surgimento de pontos de trocas, surgindo o comércio e a área comercial. Que por sua vez, fez surgir outro tipo de ocupação do lote. A Edificação ficava junto ao alinhamento da rua, sem qualquer afastamento.
Foto do Grupo Facebook: Antigamente em Blumenau

O grande número de artesão (marceneiros, ferreiros, carpinteiros, alfaiates, etc) aumentou o grau de auto-suficiência da Colônia, possibilitando a atividade da exportação e o aumento da movimentação no Porto fluvial situado à cabeceira do bulevar rua das Palmeiras.
Era comum, existir áreas vazias entre uma propriedade e outra. Isto acontecia por que os lotes não eram distribuídos em série. O imigrante escolhia o lote que lhe agradava. Como tinha ainda muita terra disponível, ficavam muitas lacunas sem construção no perfil da paisagem. 

As primeiras casas

A casa permanente do imigrante adotava a técnica em enxaimel. O enxaimel consiste basicamente, na articulação de peças de madeira horizontais, verticais e inclinadas, formando um sistema rígido, preenchido com materiais de vedação, desde taipa adobe ou tijolos maciços. 


A implantação da casa e das outras instalações domiciliares eram realizadas de forma despretensiosa, nas áreas planas da propriedade e, raramente eram feitas nos aclives, com nítida tendência ao isolamento. 

Em um primeiro momento, os fechamentos eram confeccionados em taipa e dobe. Foi por pouco tempo, logo o imigrante começou confeccionar tijolos e telhas em olarias. As paredes externas passaram então e ser feitas em tijolos aparentes na cor natural.
Provisória - Taipa

Casa permanente - Nova
A edificação era feita elevada do chão através de baldrames apoiados sobre pedestais apoiados sobre pedestais de tijolos ou pedras, com isto criando dificuldade para entrada de insetos e cobras, e promovia o isolamento contra a umidade do solo, aumentando a vida útil da madeira. Seu perfil era caracterizado por telhados pontiagudos de duas águas, com o lado da calha voltado para a rua. A cobertura era feitos com telhas duplas, curvadas na parte inferior (conhecida telhas alemãs, germânicas ou cauda de castor), prolongando-se até os beirais apoiados em elementos de madeiras conhecidas como “cachorros”.

As aberturas são usadas nas fachadas de forma simétrica em relação a porta. Apresentam as mesmas dimensões, com a abertura das folhas voltadas para o lado externo da casa.. As primeiras casas tinham aberturas de madeira, mais tarde surgiram casas com aberturas com vidros de pequeno tamanho.

A porta principal quase sempre era adornada e localizada ao centro da fachada principal. Às vezes era complementada por pequenas esquadrias.
Exemplos do Vale do Itajaí - Antigamente pertencia a Colônia Blumenau. 



A espacialização interna também segue, quase sempre uma mesma tipologia. Na parte frontal localiza-se a sala e um dos quartos. Na parte posterior, está a cozinha, a copa e uma escada íngreme que leva ao piso superior, o sótão. O sótão geralmente utilizado como o quarto dos rapazes ou depósito de produtos agrícolas.

A varanda era utilizada nos períodos de lazer, aos domingos e após o trabalho. Geralmente decorada com gradis de madeira adornados. Protegia a casa dos excessos de sol e chuva.

A decoração interna da casa apresentava paredes com pintura, cortinas claras, móveis de madeira pesada, assoalho de tábuas largas e tetos de madeiras. As construções em enxaimel foram utilizadas nas mais variadas funções: desde casas de comércio, escolas, salões de baile e até em igrejas.
Igreja de Benedito Novo
O enxaimel trazido pelos imigrantes alemães no fim do Século XIX remonta ao período renascentista, desenvolvido em alguns lugares da Europa, e no caso da Alemanha, entre os Séculos XVI e XVIII, já considerado fora da época. Entretanto esta técnica construtiva oriunda dos etruscos no Século VI a.C. pode ter tido seu início talvez, alguns séculos antes. 
Estudiosos e técnicos alemães que aportam no Vale do Itajaí - Antiga Colônia Blumenau, afirmam que aqui  é o local onde há o maior conjunto  de edificações feitas com a técnica enxaimel fora da Alemanha e que contribuiu para a construção da paisagem da cidade junto com os elementos estruturadores em suas primeiras décadas.
Em 16 agosto de 1996, uma das primeiras  casas construídas no bairro Vila Itoupava - Blumenau, foi instrumento de pesquisa estudo do Deutsches Zentrun fur Hanwerk und Denkmalpflege e FURB - curso de restauro coordenado pelo Pesquisador e carpinteiro alemão Manfred Gerner, seu auxiliar e alunos ddas duas primeiras turmas do curso de Arquitetura da FURB. Casa com fechamento em taipa de bambu e madeira, baldrames de pedra. Sr. Gerner ficou encantada com o conjunto de tipologia que viu no vale do Itajaí, na época. 






Não precisamos continuar a construir utilizando estas técnicas e tipologia, mas, com consciência, poderíamos construir, ou continuar a construindo a cidade, mantendo e fazendo a manutenção deste patrimônio paisagístico, ainda existente. Temos a obrigação de preservar este patrimônio e a escala do seu entorno. Pode existir somente a presença de um exemplar, e este já deve ser respeitado. 
Vale esta reflexão nesta data - Aniversário de Blumenau - cidade muito jovem para já estar desprovida de sua História - na paisagem.

Exemplar da Rua das Palmeiras - Atual
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Técnica Enxaimel

Parabéns Blumenau! 
Jovem cidade de 163 anos e com sua História tão desprotegia.


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Referências 

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