segunda-feira, 18 de março de 2013

Mensagem de Toronto - Canadá - Idéias através de Fotos

André Vasconcelos em frente a York  University onde faz
intercâmbio de engenharia e é monitor nas turmas de língua portuguesa
Outro dia, recebemos uma mensagem abaixo do Post Visitantes de muito longe. Quem nos escreveu foi o Sr. André Vasconcelos. Sua mensagem muito nos alegrou. Um dia após a mensagem, Sr. Vasconcelos nos enviou fotografias ilustrando a explicação e de como há a valorização da língua dos imigrantes no Canadá, coisa que não ocorre em nosso país. Ele explica na sequência, através de uma mensagem e de uma correspondência eletrônica.

Mensagem:
14 de março...
Olá, eu sou André e moro em Toronto (em Ontario).
É uma pena que no Brasil ainda são poucos os municípios que oficializam outras linguas de imigrantes. Aqui em Toronto, nos bairros Little Portugal. Little Italy e Chinatown. As placas, também são escritas em português, italiano e chines respectivamente, e nos serviços públicos (Como hospitais e escolas). Dentro destes bairros, também , usam-se estas línguas  Já é tempo de as Prefeituras no nosso país oficializarem as línguas majoritárias nos bairros étnicos. Abraços.
Comunicação eletrônica 
15 de março

Oi,
Seguem-se algumas imagens dos bairros étnicos que há aqui em Toronto, inclusive das placas das ruas, e das fachadas dos estabelecimentos. 

Perceba que no bairro português até a fachada do Bank of Montreal vem escrita com letra maior em português, Banco de Montreal, e escrita com letras menores em inglês e francês (Bank of Montreal, Banque de Montréal) 
Perceba também que todos os problemas que os alemães e os italianos passaram no Brasil durante a 2a Guerra, também passaram exatamente da mesma forma no Canadá. Vale lembrar que desde sempre no Canadá, a língua inglesa é oficial onde os anglófonos sejam a maioria e a francesa é oficial nos lugares em que os francófonos sejam a maioria, e co-oficiais onde a proporção seja na mesma ordem de grandeza (se houver pelo menos um quarto da população que fale uma destas línguas). O que determina se a língua oficial é a inglesa ou a francesa, é simplesmente a demografia da população que fala a língua, e principalmente se a população faz parte da história no ambiente. 
Entre as décadas de 1970 e 1980, outras minorias conseguiram oficializar outras línguas (como o italiano, por exemplo, no bairro italiano) nos mesmos moldes, nas comunidades em que a população fosse a maioria (ou até mesmo qualquer percentual significante) e fizesse parte da história da determinada região, com lógica de que proibir uma língua que seja falada pela maioria é uma forma de limpeza étnica, como qualquer outra, o que evidentemente fere os Direitos Humanos. Para isso então, só bastou um abaixo-assinado, e algumas simples propostas de lei.
Perceba em 486981_4684655912146_1546488071_n.jpg e 559632_4684655032124_439658002_n.jpg alguns jornais brasileiros que circulam no bairro português, que eu escaneei, e rua a cores.PNG, College_street_sign_Toronto.jpeg e chinatown_dundas.PNG (em anexo) as placas públicas das ruas nos bairros também podem ser traduzidas. 
Eu estava conversando com um morador, e ele falou que nesses bairros os serviços públicos tinham que ter pelo menos um funcionário atendendo nestas línguas (por exemplo, policiais que atendem ocorrências em italiano, e aula da língua obrigatória na escola). O município possui algumas comissões formadas por grupos de representantes destes bairros, que gerenciam a oficialização destas diretrizes.
Infelizmente, no Brasil isto só ocorre a nível estadual (em Santa Catarina o Talian é patrimônio linguístico aprovado oficialmente no estado, http://server03.pge.sc.gov.br/LegislacaoEstadual/2009/014951-011-0-2009-001.htm) e municipal (em Pomerode a língua alemã é co oficial, http://www.leismunicipais.com.br/twitter/222/legislacao/lei-2251-2010-pomerode-sc.html), e mesmo assim, só a partir mesmo da última década (o primeiro município a co oficializar outras línguas foi apenas em 2002, São Gabriel da Cachoeira). 
Não há no Brasil co-oficialização de línguas a nível intra municipal (bairros ou distritos) como há no Canadá, simplesmente porque que eu saiba ninguém nunca tentou isto aqui ainda, acho inclusive que nunca houve uma sugestão de projeto de lei à respeito. Inclusive mesmo antes da posse de Getúlio Vargas e das duas guerras mundiais, as línguas italiana e alemã não eram oficializadas tecnicamente falando, mesmo sendo amplamente falada nas colônias do Sul e Sudeste, e ainda mesmo que 100% dos imigrantes de uma comunidade em alguma colônia falasse a mesma língua, e fizesse 100% parte da história local.
Eu mesmo sinto isto pessoalmente, porque a minha própria família (Reuter) é alemã, mas eu sempre ouço histórias de que meus avôs contam, que eles não falavam alemão fora de casa simplesmente pelo motivo de que não havia empregos para quem falasse alemão, então para eles ganharem dinheiro por aqui (serviços públicos ou particulares) tinham de falar somente a língua portuguesa. A sensação que a gente fica, é que na família, só sobrou o sobrenome alemão. 
E entre as fotos que você pediu para eu mandar, eu estou em andre_york_u.jpg, em frente à entrada da York University, onde faço um intercâmbio de engenharia, e dou monitoria nas turmas de língua portuguesa.

Abraços !
André

























Muito, muito interessante...
É importante destacar que o Canadá é um dos países com melhor e maior qualidade de vida. André apresentou,  como convive muito bem com  a presença de mais de uma língua em sua paisagem, nas cidades. Marginaliza-se a língua e a cultura dos imigrantes em um lucal,  geralmente, por temores políticos, culturais e sociais. A multi diversidade é enriquecedora possibilita boas trocas.
Quem sabe, não retorne o nome das ruas de Blumenau, nos dois idiomas: alemão e português, como já era no passado?

André, que bela contribuição e reflexão. Quando quiser comentar outros assunto e enviar outras fotos, "a casa" é sua.
Abraços da Equipe!



2 comentários:

Andrezation disse...

Valeu Angelina! A União Europeia também vem incentivando a proteção de línguas locais nas últimas décadas, desde que o totalitatismo cessou na Espanha, Itália e Portugal que vemos a mobilização a favor de línguas locais, como a língua mirandesa, galego, napolitano, etc. Durante a ditadura de Francisco Franco, a língua basca foi proibida, a cultura local, suprimida, e os intelectuais, presos e torturados. Até a Cornualha (Cornwall) na Inglaterra, que já tinha uma língua praticamente morta, a língua córnica, tem placas locais traduzidas para a língua (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bf/Penzansagasdynerghcrop.jpeg , http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/db/AnGofPlaqueBlackheath.jpg , http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/DSCN1948PenrynPrayerBookRebellionMemorial.jpg ). Só no Brasil vemos cidades historicamente fundadas por alemães, colonizadas por alemães, e com todas as placas apenas em português.

Abraços!

André

Anônimo disse...

Somos uma grande tribo, a partir da "Torre de Babel" que há entre aqueles que habitam a mesma "bola Azul". Grata por sua participação e visita no Blog do 25. Continue sempre olhando e interagindo...é gratificantemente poder fazer a comunicação em tamanha distância, se é que exista...Abraços da Equipe.