quinta-feira, 3 de março de 2011

Um pouco de História... Carnaval alemão teve várias caras ao longo da história

Deutsche Welle

Xilografia do Carnaval de Colônia de 1870
Com a "Weiberfastnacht", quinta-feira das mulheres, começa na Alemanha a chamada quinta estação do ano. Mas os festejos de Carnaval mudaram de cara ao longo dos séculos e deram origem a diversas formas regionais.



O Karneval renano, a Fastnacht suábio-alemânica e o Fasching bávaro são apenas algumas das diversas modalidades regionais da festa que os alemães apelidaram de a "quinta estação do ano". Mas, seja qual for o nome dado, o Carnaval nos países de língua alemã representa originalmente o período anterior à abstinência, ou seja, antes da Quaresma, os 40 dias que precedem a Páscoa.
Por muito tempo se questionou a origem do termo – se remonta a ritos pagãos de fertilidade, a rituais de exorcismo de demônios ou mesmo a festividades romanas, como as saturnais e os bacanais. Mas seu sentido vem em grande parte da tradição religiosa cristã. Só mais tarde é que ganhou influências patrióticas, por exemplo, no escárnio das tropas francesas durante a ocupação da Renânia por Napoleão.

Festejos medievais eram pura diversão

Máscara romana no Museu do Carnaval
Os primeiros registros da Fastnacht nas regiões de língua alemã datam do século 13. Já naquele tempo, era comum festejar e ingerir grandes quantidades de carne, queijo, manteiga, banha e ovos. A intenção era consumir os mantimentos que haviam sido armazenados para o inverno. Daí vieram as procissões e o costume de arremessar ovos.
Na Alta Idade Média, era comum festejar dentro de casa. A partir do século 13, cada vez mais se começou a preferir os festejos ao ar livre, pelo menos nas grandes cidades. E a comilança era sempre acompanhada pelos foliões, em festejos com música, dança e apresentações teatrais. Torneios e corridas eram também muito apreciados.
Surgiu então a moda das encenações alegóricas, com o combate entre personificações da Fastnacht e da Quaresma, representadas por animais e alimentos. Até o final do século 14, os festejos permaneceram lúdicos e despreocupados: o importante era se divertir.

Igreja condenou a Fastnacht

A partir do século 15, tudo mudou. A Igreja passou a condenar a Fastnacht e teólogos a censuraram como ímpia e infame, com base na doutrina dos dois reinos de Santo Agostinho. Oposta ao reino de Deus, a Fastnacht passou a ser associada ao reino do pagão Baco e do rei Nabucodonosor. Os foliões medievais passaram a ser vistos como a personificação do mal.

Carnaval na chancelaria federal
Até hoje, tanto em Colônia, quanto em Munique, continuam existindo príncipes, arautos e parlamentos de onze foliões. O onze é tido como número do folião; por isso, em muitas regiões se costuma iniciar a temporada de Carnaval oficialmente em 11/11 às 11h11.
A demonização do Carnaval pela Igreja é perceptível até hoje nas máscaras e fantasias que proliferaram desde o século 15. O diabo corre pelas ruas, junto a bruxas, demônios e selvagens. Mas também adeptos de outras religiões foram satirizados, como mouros e judeus. E animais simbolizavam os pecados capitais: o urso e o porco representavam a gula; o galo e o bode, a luxúria; o burro, a preguiça; e o dragão, a inveja.

Protestantismo e Ilustração: menos empolgação

Os séculos 15 e 16 assistiram a um apogeu da Fastnacht. Inclusive acontecimentos cotidianos viraram tema de sátira e encenações teatrais se tornaram mais comuns.
Com o afrouxamento da moral medieval, o folião, que questionava a ordem vigente e satirizava tudo o que imperava, tornou-se a figura carnavalesca central, com sua roupa de retalhos que lembra o figurino do Arlequim da Commedia dell'Arte italiana.
Mas a Reforma Protestante e a Ilustração significaram um corte profundo nos festejos de Carnaval. Só o Romantismo do século 19 foi que reacendeu o interesse por velhos costumes e festas populares.

Política é a maior vítima de carnavalescos
São muito variados os ritos praticados durante a festa – de queimar bonecos a deixar rolar um roda em chamas do alto de um morro – e igualmente numerosas as superstições populares: na terça-feira de Carnaval, por exemplo, não se deve casar pois o diabo está à solta, mas tomar banho em estado sóbrio ajuda a curar dor nas costas. E as antigas tradições carnavalescas continuam vivas em praticamente todas as variantes regionais na Alemanha.
Após a Segunda Guerra Mundial, a comemoração da Fastnacht viveu uma enorme popularização. Desde então, é regra todo ano – seja por escapismo, por uma legítima crítica à política através de bonecos e máscaras, pelo puro prazer de se fantasiar ou como simples válvula de escape para o espírito.


Dieter David Scholz (rr)






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