terça-feira, 5 de junho de 2012

A dança como traço cultural - JSC


Jornal de Santa Catarina
  -  05/06/2012 | N° 12589

CULTURA

Com projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, Roswitha Ziel, instrutora de dança do Centro Cultural 25 de Julho, relata os traços culturais da festa de Kerwa, na Alemanha, que inspira coreografia no próximo Festfolk, em Blumenau.

Sra. Roswhita Ziel
O Centro Cultural 25 de Julho de Blumenau tem como sócios-fundadores famílias da região da Baixa Francônia, situada no Norte da Baviera, na Alemanha, que muito se empenharam em fazer o trabalho de preservação cultural na cidade. Desta forma, laços de amizade se estabeleceram entre a entidade e grupos da Alemanha, mais especificamente desta região e da cidade de Geldersheim. Esta pesquisa sobre o folguedo ou a festa de Kirchweih, contemplada pelo Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural do Ministério da Cultura, teve origem em função de o grupo de danças folclóricas do Centro Cultural 25 de Julho, o Blumenauer Volkstanzgruppe, ter fortes laços de amizade com o grupo de preservação de costumes e tradições Heimatverein Geldersheim. O grupo integra o Trachtenverband Unterfranken desde outubro de 2008, associação de grupos que tem interesse na preservação, manutenção e revitalização da cultura regional. Com a participação e o registro sobre esta festa típica, puderam ser fortificados ainda mais os laços de amizade e a cultura que nos une.
A Kirchweih, ou Kerwa no dialeto da Francônia, é originalmente um festejo religioso popular da Alemanha no qual se comemorava a consagração da igreja. Atualmente, este caráter religioso não se mantém, tendo se tornado uma manifestação da cultura popular. Em cada região, ela tem caráter diferenciado quanto às suas manifestações. Em algumas regiões, ainda se baseia na tradição e em outras teve seu desenvolvimento influenciado e ditado por atos populares em geral.
A Kerwa de Geldersheim tem sua origem no ano de 1764, quando o então bispo do principado, Adam Friedrich von Seinsheim, ordenou que todas comemorações em sua área de atuação ocorreriam unicamente no fim de semana após a festa de São Martinho, no dia 11 de novembro. Com esta medida, ele queria impedir que o povo se excedesse na diversão com bebidas e danças. Hoje, esta regulamentação não vigora mais, possibilitando ao público encontrar as comemorações durante todo o ano.
Geldersheim desde o início obteve a concessão de realizar após a Kerwa um segundo evento, a pós-Kerwa. A cidade recebeu este direito em função de sua importância regional. A data acabou se estabelecendo até hoje como data oficial para a festa, sendo sempre no último fim de semana do ano eclesiástico, o que precede o advento.
Desde 1989, o promotor e organizador da Kerwa em Geldersheim é o Verein für Heimat- und Brauchtumspflege, instituição organizada desde 1988 que tem como objetivos a preservação e manutenção de usos e costumes ligados ao dialeto, música, dança e canto regional. A entidade preza também pela revitalização do traje Geldersheimer Werntaltracht do qual possui hoje um acervo com mais de mil peças originais, em sua maior parte do traje feminino.


O passo a passo da festa


A Kerwa inicia-se na sexta-feira com um baile no salão histórico da cidade. A abertura ocorre com os Fichtenpaare, jovens representantes oficias da festa, vestidos com roupas de gala da época de 1920. As meninas usam o traje histórico com peças originais antigas enquanto os rapazes vão de fraque e cartola, moda já desde o final do Século 18. Os bailes são diferentes do que aqui conhecemos, sendo sempre dançados em tours, compostos por estilos como Walzer, Rheinländer, Schottisch e Dreher, tradicionais de bailes do Século 19. A música somente começa a tocar quando alguns pares se deslocam na pista. Dança-se em círculos concêntricos e, entre uma música e outra, os pares caminham de braço dado, sempre com os mesmos parceiros.
No sábado, os rapazes tem como primeira tarefa buscar as meninas em suas casas. Usando o traje histórico de trabalho, saem em grupo logo cedo, acompanhados da banda. Muitas pessoas da comunidade acompanham o cortejo, que passa por toda a cidade. Em cada casa é dançado um tour na rua mesmo. As meninas usam o traje de trabalho com o lenço grosso de lã, adequado para a estação. Após a apresentação, são servidos lanche e bebidas a todos os presentes. Então, eles seguem adiante até que todas as meninas estejam integradas ao grupo.
À tarde, o cortejo ainda continua para fazer a colocação dos Fichten, abetos, árvores da família das pináceas, que marcam os festejos da Kirchweih em toda a região. É daí que vem o termo Fichtenpaare, dado aos representantes de festa. Os abetos, enfeitados pela moças com fitas coloridas, seguem em uma carroça, sendo colocados em frente aos estabelecimentos históricos e relevantes da cidade como prefeitura, ginásio de esportes, restaurante, casa paroquial, entre outros. Ali, são erguidos à pura força dos rapazes, sinalizando o andamento da festa. Nesta época do ano, é inverno na Alemanha e assim o período de claridade é bastante curto. Ao final do cortejo já é noite, apesar do horário não passar das 16h.
Professora da disciplina de Dança do curso de Educação Física na Uniasselvi e instrutora de dança folclórica do Centro Cultural 25 de Julho, Roswitha esteve na Alemanha em novembro de 2011, registrando as características culturais da festa de Kerwa.


ROSWITHA ZIEL*

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