quinta-feira, 21 de julho de 2011

Porque comemoramos o Dia do Colono no dia 25 de Julho?

Ontem, ao sermos questionados pela repórter Cátia da Rádio Clube de Blumenau - Por que se comemora o dia do colono no dia 25 de Julho, não soubemos responder de maneira muito clara.

Um pouco de História...

Imigrantes alemães em Nova Friburgo - RS - Século XIX
A região sul do Brasil, até a chegada dos primeiros imigrantes, era habitada pelos povos nativos das tribos tupi-guaranis que mantinham a sua sobrevivência através da agricultura e da caça.

O local de suas plantações tinha a duração média de uso de cinco a seis anos. Quando o solo estava esgotado e caça quase inexistia mudavam para outra região onde se fixavam novamente dentro deste tempo.


O encontro das culturas dos nativos e dos imigrantes europeus (portugueses, espanhóis, italianos e alemães, etc) quase sempre foi conflituoso.

Até meados do século XIX, a ocupação da região fora feita somente por imigrantes portugueses, espanhóis e seus descendentes diretos, já nascidos no Brasil. Os portugueses e seus descendentes tinham sua sobrevivência baseada na exploração direta das riquezas naturais, agricultura e pecuária. Os espanhóis, através de ações militares, se impuseram pelas conquistas do território.

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 O resultado destas movimentações sociais resultou em um solo ocupado por etnias resultantes da miscigenação destas raças - da nativa com àquelas que chegaram posteriormente. Este povo desenvolveu a pecuária extensiva nos pampas, a partir das Missões e criaram, de maneira informal, caminhos que cortaram toda a região sul, até o estado de São Paulo e Minas. Ao longo do caminho das tropas, desenvolveram vários núcleos urbanos e fez surgir outras, células de importantes cidades atuais.

Mapa feito pelo imigrante alemão da Colônia de Blumenau, em 1870, - Emil Odebrecht
Caminho das Tropas em Santa Catarina

Região com muitos conflitos e guerras pela posse da terra e delimitação de fronteiras.


Em 1822, quando foi declarado independente, o Brasil não dispunha de um exército eficaz para a defesa de todo o território nacional, principalmente da região sul, na época, uma região subdesenvolvida e muito exposta às investidas das tropas espanholas.
A Imperatriz D. Leopoldina - princesa austríaca,
esposa do imperador D. Pedro I - real mentora da indepedência do Brasil
Nesta pintura em reunião com o Conselho de Ministros
atuando como regente do Império, em 1822
O governo central brasileiro encontrou solução na  imigração européia, para ocupar a terra e investiu na colonização para a região. Os colonos preenchiam as lacunas de segurança e serviam como exército de reserva na região sul, onde os espanhóis insistiam em reivindicar suas posses.

O governo investiu em propaganda na Europa, para convencer as pessoas a virem com suas famílias para o sul do Brasil e ofereceu vantagens nem sempre cumpridas em sua plenitude. Entre estas vantagens estavam: passagens pagas, direito à cidadania, isenção de impostos e direito à posse de uma ou duas colônias de terra (24 a 48 ha).
 Nesta época, início do século XIX, a Alemanha e a Itália não existiam como países unificados e passavam por intensas transformações sociais em seus territórios com a industrialização tardia e movimentação de pessoas do campo para as cidades. Como já postamos aqui no Blog, a unificação alemã somente ocorreu em 1871. Na mesma época, ocorreu a unificação da Itália, consolidada somente em 1929, com o Tratado de Latrão, entre Mussolini e o Papa Pio XI.
Navio partindo com imigrantes para o Brasil

Imigrante alemães - Século XIX - início

Chegando à terra prometida, os imigrantes se deram conta que o discurso era somente propaganda e a luta, na qual estavam acostumados a travar pela sobrevivência no solo europeu, teria que continuar. A terra prometida era muito diferente daquela descrita nas propagandas. Eram regiões rudes, desprovidos da infra-estrutura mínima, como por exemplo, estradas e com donos  - os nativos.

Imigrantes alemães se instalando em São Leopoldo - RS

Primeiros imigrantes na Colônia Dr. Blumenau

Esta colonização teve seu marco inicial em 25 de julho de 1824, com a chegada de 39 imigrantes alemães no Porto de Tebas na Real Feitoria da Linha Cânhamo, atual cidade de São Leopoldo, RS.
Mapa alemão de 1905 da colônias alemãs no Brasil
25 de julho foi a data da chegada dos primeiros imigrantes alemães em solo brasileiro, de maneira organizada e em grupo. Desde então, é comemorada a data por seus descendentes, em toda a região sul e em outras regiões do Brasil.
As primeiras atividades destas pessoas, independentemente de sua formação e profissão, foi o de trabalhar a terra para garantir o alimento, este conseguido somente após a primeira colheita.

No C.C. 25 de Julho de Blumenau, esta data culmina com todos os eventos da Semana da Imigração Alemã no Brasil que inicia no próximo dia 22 de julho e termina no dia 30 de Julho.
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A colonização italiana iniciou somente em 1875 e, em muitos lugares simultaneamente, nos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina e até mesmo em outros estados.
Imigrantes italianos no Rio Grande do Sul
Sugestão de leitura link abaixo (Ler todos os post´s, seguindo no final deste, encontrar-se-á a indicação dos demais)
É uma merecida homenagem que fazemos a estes pioneiros destacada sua mais valiosa herança que é a manutenção de sua cultura através de seus antepassados.

Curiosidade

Uma narrativa de 1824 do Sr. Schlichthorst  com relação aos primeiros alemães que desembarcavam no Brasil e eram obrigado diretamente a se alistarem no exército brasileiro. Sr. Schlichthorst, imigrante alemão,   foi um ex-oficial do Imperial Exército Brasileiro. Desembarcou no Rio de Janeiro em 14 de abril de 1824, servindo no período de 1824 a 1826, quando retornou a sua terra natal. Em sua memória lamentou ter sido iludido por falsas promessas no Brasil. Schlichthorst era jovem e gostava de passear pelas ruas do Rio de Janeiro durante as suas folgas apreciando a natureza. A seguir, parte de sua narrativa, rico registro histórico de uma época, do quem vivenciou  - Regimento de Estrangeiros nos quartéis do Rio de Janeiro, no Primeiro Reinado brasileiro.


“...Apesar de alistados em Hamburgo como colonos, no Rio de Janeiro eram imediatamente forçados a assentar praça. Só tinham liberdade para ir para onde quisessem os que haviam pago suas passagens; mas estes mesmos às vezes abandonavam suas colônias e voluntariamente se engajavam, sendo, nesse caso, reembolsados pelo Governo[pela passagem](...)Os oficiais vindos nesses navios de transporte, em parte se viam colocados na graduação que o Cavalheiro Schäffer lhes garantia em Hamburgo. Alguns, no entanto, ficaram decepcionados,[foi o caso de Schlichthorst que desejava servir na Marinha e não no Exército] o que se deve atribuir mais a desordem reinante no Ministério da Guerra do que a um engano proposital daquele Cavalheiro.(...) Sim, eu próprio que, mais tarde, pude me enfronhar no modo de vida do país e conhecer o sistema de suborno nele reinante, sabendo como sei que no Brasil tudo se arranja com dinheiro(...)bastando-lhe aparência decente e alguns milhares de táleres [dinheiro alemão] para pagamento da patente(...) Para alimento dum soldado, o Governo escritura por dia meia libra de carne e meia de pão; mas(...)recebem tão pouco[carne] que suas refeições quase se limitam a arroz e feijão. Além disso, a carne que lhes dão é da pior qualidade, isto numa terra como o Rio de Janeiro, onde a carne já é ruim. O pão é feito na maior parte de farinha de milho, apesar de pago como de puro trigo. A maioria dos soldados o vende, para beber mais cachaça. Cozinham-se alternadamente duas vezes por dia, arroz e feijão. Não se varia o alimento. Serve-se o rancho sem o menor asseio. O oficial-de-dia tem obrigação de provar a sopa, sendo realmente preciso grande força de vontade para engolir esse caldo nojento. O mais pobre escravo vive melhor, sem dúvida, do que o soldado estrangeiro no Brasil.(...)O que, no entanto, torna ainda mais intolerável a situação do soldado é a falta absoluta de qualquer comodidade nos quartéis. Em parte, não há sequer tarimbas e os homens dormem pelo chão em esteiras, com um cobertor. Atormentados por incontáveis insetos, procuram na cachaça alívio ao seu martírio e curto esquecimento de sua desgraça.(...) Não é difícil imaginar os excessos a que diariamente se entregam. A conseqüência é uma pancadaria bárbara, sendo raro o dia em que se não apliquem castigos de 50, 100 e até 200 chibatadas, nas costas nuas dos infelizes(...)Os de natureza mais forte sentem uma espécie de orgulho em dizer que suportaram durante seu tempo de serviço alguns milheiros de vergastadas. Diante de um tratamento desses, não é de admirar que as deserções sejam freqüentes. Os que procuram o interior do país são logo agarrados[como os soldados presos em Nova Friburgo], porém, os que tentam escapulir por mar, raramente são descobertos (...)Castiga-se a deserção com 200 chibatadas nas costas nuas, dadas com finas vergastas de junco. Muitos as têm agüentado até quatro vezes, sem desistir de novas tentativas.....”



2 comentários:

Anônimo disse...

Meu avô Otto Baumeier foi presidente durante muitos anos e depois, presidente de honra - isto nos anos 60.
Doris van de Meene Ruschmann

Angelina Wittmann disse...

Bom dia Doris. Seu avô faz parte da história do C.C. 25 de Julho de Blumenau. Em breve teremos a publicação de um livro e será o registro desta história. Agradecemos sua ilustre visita ao Site do C.C. 25 de Julho de Blumenau. Abraços da equipe.