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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um pouco de História...Os Coros e Corais

Ao assistirmos o concerto com a participação dos Coros do C.C. 25 de Julho, no último dia 17 no Teatro Carlos Gomes em Blumenau, fez-nos desejosos de conhecer um pouco mais sobre os Coros ou Corais.

Coros do C.C. 25 de Julho e a Orquestra Jovem de Acordeons da Baviera

Que tal um pouco de História...?
A história, resumida sobre os coros.

O coro é o mais antigo entre os grandes agentes sonoros coletivos. Antigos documentos do Egito e Mesopotâmia mostram a existência de uma prática coral ligada aos cultos religiosos e às danças sagradas.















O termo Chóros possui um sentido bastante amplo e passou por diversos significados ao longo da história da civilização.
Na origem grega, Chóros significa um conjunto de fatores que atendia ideal do antigo drama grego de Ésquilo, Sófocles, e Eurípedes - Poesia, Canto e Dança.

Ésquilo

O Cristianismo antigo o adotou com outros objetivos. Passou, então a ser conhecido pelo termo latino Chorus, cujo significado é o grupo da comunidade que canta ou a abside (recinto poligonal em que termina o Coro da igreja) junto ao altar. Este local era separado dos “fiéis” da comunidade pelas cancelas. Mais tarde, neste mesmo lugar era colocado o órgão.




Coro da igreja - local dos cantores e aonde está locaçizado o órgão
A estrutura de mais vozes pode ser classificada sob o ponto de vista de procedência e sob o ponto de vista de objetivo.
O Cantus-Planus - representante do canto monódico, mesmo sendo executado por um Coro;


A música Figuralis - representante do canto a mais vozes que mais tarde, assume uma técnica mais rebuscada e artística.


 O primeiro exemplo citado foi o ponto de partida que fundamentou o segundo exemplo, isto mais ou menos pelos séculos VII e VIII, quando surgiu uma polifonia “aparente” com o organum, executado em quintas paralelas, tendo por base o Choral que se impôs como Cantus Firmus.
Foi somente no século XI é que o sentido polifônico assumiu uma característica mais independente, que apesar de ritmos semelhantes, ousava enfeitar o Cantus Firmus, fazendo surgir o Cantus Floridus. Foi assim que surgiu o Contraponto. Foi, então, no século XII que a primeira reforma coral e atingiu seu apogeu no século XIII, com uma estrutura a três vozes. Naturalmente, com o desenvolvimento da técnica, surgiram novas formas, como por exemplo, a estrutura a quatro vozes - apareceram três formas corais distintas:
·        O Conductus - possuía forma mais festiva;


·        O Rondellus - uma espécie de cantiga de roda;


·        O Motetus - possuía maior originalidade e foi a que mais se desenvolveu.


No século XIV,  as principais partes da missa católica eram cantadas (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus com Benedictus, Agnus Dei).


Grécia

O coral na Grécia Clássica é uma organização estabelecida e tem uma importância social  dentro do sistema vigente na época. Não tem mais somente o caráter  exclusivamente religioso e passa a fazer parte dos festejos populares. Para os gregos da época clássica o canto do coro é uma das mais elevadas expressões do ser humano.
Segundo historiadores, a lírica coral recebeu um grande impulso de Stesicoro, de Meauro ou Tisias, denominado o criador do coro.

Tísias
A Arion se atribui a criação do dethyrambo- coral artístico, do qual se originou a tragédia. Na época, o coro era denominado circular porque evoluía em torno da estátua de Dioniso.
Curioso, em Athenas o recrutamento, a indumentária e a instrução de um coro era um serviço público imposto pelo estado a todos os cidadãos que tivessem condições para manter o mesmo.

Athenas
A música cantada ocidental, foi primeiramente sistematizada pelo Papa Gregório I e ficou conhecida como  Canto Gregoriano. A característica do canto gregoriano ou cantochão é a sua riqueza melódica e a ausência de polifonia. É cantado uma única melodia em uníssono e tem o ritmo livre, adaptando-se fielmente aos textos litúrgicos.





Roma

Os romanos, como um povo, estavam ligados às guerras e as conquistas. Era um povo com característica bélica.  Não inventaram nenhum instrumento, adotavam os instrumentos usados pelos povos conquistados. Há quem diga que os romanos conquistavam à força, mas eram conquistados pela cultura de seus reféns. Tinham preferência pela flauta utilizada em solenes tiros divinos, bem como nas festas livres - longínquos precursores do Carnaval. Sua cultura artística foi introduzida pelos escravos trazidos de suas inúmeras batalhas. Foram instruídos pelos gregos e adotaram os princípios da estética, também dos gregos. Em 336 a.C. surgiu em Roma, as Pantominas Etruscas, sucessoras do teatro grego nas quais, era comum a apresentação de música. Aos poucos o teatro romano adquiriu um caráter mais satírico e popular. O Coro era de grande importância na tragédia latina.

 O coro cristão

Nasceu nas catacumbas de Roma sob o nome de Cantochão (cantus planus). As pessoas desta época, entoavam à divindade, solicitando auxílio para a sua causa, e coragem para enfrentar os desafios e  onde o ideal cristão haveria de vencer.


Em 54 d.C., o apóstolo Pedro chegou a Roma, trazendo do Extremo Oriente estranhas melodias de triste beleza e casto entusiasmo. Essas melodias encontraram sintonias com os cânticos sagrados dos judeus e seu espírito penetrou de vez nas antigas melodias. Esta fusão de melodias encontrou liberdade, no momento que o Imperador Romano Constantino se converteu ao catolicismo.

Coral protestante

Como é sabido, Martinho Lutero era frade agostiniano devoto de Santa Ana. Rebelou-se contra a ostentação do luxo e as indulgências na igreja católica. Em seu livro Liberdade Cristã publicou suas 95 teses que provocou uma revolução religiosa. Lutero era músico e percebeu que através dela poderia organizar e propagar em toda Alemanha melodias populares e o canto gregoriano com o repertório da língua alemã. Com isto, ele pretendia que os fiéis entendessem o que estava sendo cantado. Sua primeira coletânea apareceu no ano de 1524 - Enchiridion.

Coro de Lutero

O Concílio de Trento (1545 - 1563)

O Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III, era uma reunião de legados papais, bispos e teólogos realizada pela Igreja Católica. Um dos principais objetivos desta reunião era combater o protestantismo. Em um primeiro momento, o Concílio proibia a música polifônica na igreja, pois acreditavam que a polifonia confundia os fiéis e os textos litúrgicos ficavam em segundo plano.

Mas não permaneceu assim sem a música nas missas. Giovanni Pierluigi da Palestrina criou a Missa Papae Marcelli e dedicou ao Papa, seu protetor. Então foi banida somente a música profana da igreja católica. Conta a lenda que, em uma noite, os anjos desceram do céu ao seu quarto, situado no sótão de um dos prédios mais altos de Roma, perto da Catedral de São Pedro, e entoaram uma maravilhosa polifonia. Palestrina, com as mãos trêmulas, simplesmente se limitou a transcrever o que escutava.


 

Foi somente a partir do Século XV que o Coro começou a assumir a estrutura que é adotada hoje – e é resultado de tudo o que transcrevemos até aqui de maneira simplificada.
A prática antiga já estabelecia que qualquer agrupamento, independentemente do tamanho, tinha que ser conduzido por alguém que mantivesse e essa unidade. Isso já era percebido no Chóregos grego, através de sua responsabilidade de condução, passando pelo Magister na igreja da baixa Idade Média. O desenvolvimento se processa através de uma série de mudanças e reformas.
















Em 1324 surge o cânone Summer is incumen in na Inglaterra. Era uma sonoridade estranha para os padrões da época, mas que contribuiu de maneira decisiva para o desenvolvimento posterior do coro.



      Em 1330 aparece pela primeira vez uma missa completa a mais vozes -  Missa de Tournais e a missa de Machaut de 1364.



A prática coral foi cada vez mais se desenvolvendo e se diversificando, além da religião. Inicialmente, como percebemos somente a música sacra era permitida. Aos poucos, com o passar do tempo, a música profana começou a ocupar seu espaço. Irmandades surgiam e se dedicavam exclusivamente a música. Para essas, o importante não era somente cantar, mas também, estudar.

Surgiram escolas de canto, cujos aprendizes eram Dormitoriales - que dormiam nas escolas e que também eram responsáveis pelos serviços da igreja e por grupos externos de amadores. Os Coros de escolas também assumiam compromissos com o canto coral e figural. A expressão máxima da forma coral é atingida no alto Barroco com J.S.Bach e Haendel. A Paixão e a Cantata são, juntamente com o Oratório, os gêneros mais cultivados na época e a função do coro não era mais exclusivamente litúrgica. A partir dessa época criam associações de canto e outras agremiações congêneres que visavam a prática do canto coral. A partir de então inúmeras escolas, fundações, conservatórios, são fundados visando a restauração e renovação da prática coral.
No Séc. XIX, o canto coral passa a ser disciplina obrigatória nas escolas de Paris. Nessa mesma época surge a idéia dos Festivais de Música. A prática coral passa a ter um caráter e compromisso mais social. No século XX, acontece o aprimoramento de determinadas práticas e acontece o retorno às origens de cada estilo, procurando através da pesquisa, delinear o espírito de cada época, na qual cada obra foi criada. A obra de arte é um espelho de sua época.

Em épocas passadas, os Coros eram mantidos e seus mecenas e incentivadores eram os reis, o Clero e pessoas da elite e nobreza. Este apoio tinha como objetivo manter os grupos de música para as festividades locais e para disseminar a doutrina religiosa, atrair e integrar os fiéis às igrejas.

Tivemos vontade de conhecer um pouco sobre a história do coro/coral, após a apresentação que assistimos no dia 17 último, no Teatro Carlos Gomes, onde ouvimos os coros do C.C. 25 de Julho Blumenau – Misto e Masculino Liederkranz.

Os coros do C.C. 25 de Julho em seu palco - Natal de 2010


Sempre é muito bom conhecer mais através do processo histórico - suas causas e conseqüências, através de um pouquinho de História.
Coro em família - Die Familie Von Trapp - Áustria





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